Page 716 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– Jill – murmurou Eustáquio –, devo confessar-lhe que estou
morrendo de medo.
– Para você, tudo bem, meu caro – respondeu Jill. – Você pode lutar.
Mas, e eu? Estou tremendo como vara verde, se é que você quer saber.
– Ora, tremer não é nada – disse Eustáquio. – Já estou quase
vomitando.
– Pelo amor de Deus, nem me fale nisso – disse Jill.
Permaneceram calados por uns dois minutos.
– Jill – disse Eustáquio, de repente.
– O que é?
– E se a gente morrer aqui, como é que vai ser?
– Ficamos mortos, suponho.
– Não... quero dizer... o que vai acontecer no nosso mundo? Será que
a gente vai despertar e se encontrar de novo naquele trem? Ou será que
vamos simplesmente sumir, e pronto, nunca mais se ouve falar de nós? Ou
será que vamos aparecer mortos na Inglaterra?
– Papagaios! Nunca pensei nisso!
– Já pensou que esquisito se Pedro e os outros me vissem acenando
pela janela, e aí, quando o trem parasse, não encontrassem a gente em parte
alguma? Ou então se nos achassem mortos, lá na Inglaterra?
– Nossa! Que idéia horrível! – exclamou Jill, com uma careta.
– Para nós, até que não seria tão terrível assim –disse Eustáquio. –
Não iríamos estar lá, mesmo...
– Eu quase gostaria... Não, não gostaria. Esqueça.
– O que é que você ia dizer?
– Eu ia dizer que gostaria de nunca ter vindo. Mas não, não e não!
Mesmo que a gente morra. Prefiro morrer lutando por Nárnia a crescer e
ficar uma velha caduca em casa, quem sabe até andando por aí numa
cadeira de rodas, e depois acabar morrendo do mesmo jeito.
– Ou então ser esmagado nos trilhos da estrada de ferro...
– Por que você diz isso?
– Porque... Bem, quando deu aquele terrível solavanco (aquele que
nos atirou aqui para Nárnia), pensei que fosse um acidente de trem que
estava acontecendo. Por isso fiquei muito contente ao descobrir que
estávamos voltando a Nárnia.