Page 717 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Enquanto Jill e Eustáquio conversavam sobre essas coisas, os outros
discutiam seus planos. Isso os fazia sentir-se menos infelizes, pois
enquanto planejavam o que fazer naquela mesma noite, a idéia do que
acontecera a Nárnia (de que todas as suas glórias e alegrias tinham chegado
ao fim) ficava em segundo plano. No momento em que parassem de
conversar, ficariam tristes de novo – assim, continuavam falando. O anão
estava muito animado com o trabalho que teriam de fazer à noite. Tinha
certeza de que o javali e o urso, e provavelmente todos os cães, tomariam o
partido do rei. E não acreditava que todos os anões ficassem do lado de
Grifo. Lutar à luz da fogueira e sob as árvores seria vantajoso para o lado
mais fraco. Portanto, caso conseguissem vencer naquela noite, que
necessidade haveria de desperdiçar suas vidas num encontro com todo o
exército calormano, alguns dias mais tarde? Por que não se esconderem nas
matas ou mesmo lá para as bandas do Bosque Ocidental, além da grande
cachoeira, e ali viverem como fora-da-lei? Então, se fortaleceriam pouco a
pouco, pois a cada dia novos animais falantes e habitantes da Arquelândia
se juntariam a eles. Finalmente sairiam do seu esconderijo e varreriam do
país os calormanos (que, àquela altura, já andariam meio descuidados), e
Nárnia voltaria à vida. Afinal, algo muito parecido acontecera nos
dias do rei Miraz.
Tirian escutava tudo, pensando: “Mas, e Tash?” E, lá no fundo do
coração, sentia que nada disso iria acontecer. Mas não falou nada.
Ao se aproximarem da Colina do Estábulo, todos foram ficando
calados. Aí é que começou mesmo o trabalho na floresta. Desde o primeiro
instante em que avistaram a colina, até o momento em que todos chegaram
aos fundos do estábulo, passaram-se mais de duas horas. É o tipo de coisa
que não dá para descrever com precisão, a não ser que se escrevam páginas
e páginas sobre o assunto. Cada corrida de um cantinho escondido para
outro era uma aventura isolada, para não falar nas longas esperas entre cada
uma e nos vários alarmes falsos. Se você é um bom escoteiro ou uma boa
bandeirante, então já deve ter uma idéia de como deve ter sido. O sol já
estava se pondo quando todos conseguiram chegar a salvo e esconder-se
numa moita de azevinhos a uns quinze metros dos fundos do estábulo.
Depois de mastigarem alguns biscoitos, deitaram-se.
Aí é que veio o pior: a espera. Felizmente para as crianças, puderam
dormir algumas horas. Acordaram com o frio da noite e, o que era pior,
sedentos, mas não havia a menor chance de conseguir algo para beber.
Confuso, de pé e sem dizer uma palavra, tremia de nervosismo.
Tirian, porém, com a cabeça recostada contra o flanco de Precioso,
dormia a sono solto, roncando como se estivesse no seu leito real em Cair
Paravel, até que o barulho de um gongo o despertou. O rei sentou-se e,