Page 700 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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jumento. Num canto da boca havia uma porção de capim, pois, durante a
caminhada, ele aproveitara para dar umas mordiscadas na grama.
– Não tive culpa de nada... Não sou muito esperto. Nunca disse que
eu era ele... – resmungava baixinho o jumento.
Os anões fitaram Confuso por um instante, de olhos arregalados e
boca escancarada. De repente, um dos soldados disse, rispidamente:
– Estás louco, meu mestre? ! O que estás fazendo com os escravos?
– Quem és tu? – perguntou o outro.
Nenhuma das lanças agora erguia-se em saudação; ambas estavam
abaixadas e prontas para a ação.
– Qual é a senha? – disse o soldado-chefe.
– Esta é a minha senha – exclamou o rei, sacando a espada. –
Dissipem-se as trevas da mentira e brilhe a luz da verdade! Agora,
canalha, em guarda, pois sou Tirian de Nárnia!
O rei partiu como um raio para cima do soldado-chefe. Eustáquio,
que já havia sacado a espada, ao ver Tirian fazer o mesmo, avançou contra
o outro soldado: seu rosto estava pálido como o de um defunto e com toda
a razão. Mas ele teve a sorte que muitas vezes têm os principiantes:
esquecendo-se de tudo que Tirian lhe havia ensinado naquela tarde, saiu
golpeando selvagemente (para dizer a verdade, acho até que ele estava de
olhos fechados) e, de repente, para sua própria surpresa, descobriu que o
calormano jazia morto aos seus pés. Se, por um lado, isso lhe trouxe um
grande alívio, naquele momento, porém, foi muito mais assustador. A luta
do rei durou um ou dois segundos mais e logo também ele havia matado
seu adversário, gritando para Eustáquio: “Cuidado com os outros dois!”
Mas os anões já haviam dado um jeito nos dois calormanos restantes. Não
havia mais inimigos.
– Bela luta, Eustáquio! – exclamou o rei, dando-lhe um tapinha nas
costas. – Agora, anões, vocês estão livres. Amanhã eu os comandarei para
libertarmos Nárnia inteira. Três vivas para Aslam!
O que aconteceu a seguir, porém, foi a maior decepção. Houve uma
leve tentativa por parte de alguns anões (talvez uns cinco), mas que de
repente se desvaneceu totalmente. Outros soltaram apenas um rosnado mal-
humorado. Muitos deles não disseram absolutamente nada.
– Será que não entenderam? – estranhou Jill, impaciente. – O que é
que há de errado com vocês, anões? Não ouviram o que o rei disse? Está
tudo acabado. O macaco não vai mais governar Nárnia. Todo mundo pode
voltar à sua vida de sempre. Podem divertir-se à vontade de novo. Não
estão contentes com isso?