Page 695 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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O  homem  ergueu-se,  sempre  com  a  ponta  da  adaga  encostada  ao
                  pescoço. Esta só se moveu (fria e fazendo cócegas) quando Tirian passou
                  para  trás  dele,  colocando-a  num  ponto  estratégico,  abaixo  da  orelha.
                  Tremendo de medo, ele deu a volta e dirigiu-se para trás do estábulo.

                         Embora  estivesse  escuro,  Tirian  logo  enxergou  o  vulto  branco  de
                  Precioso.

                         – Silêncio! – disse ele. – Não relinche! Sim, Precioso, sou eu mesmo.
                  Como é que o prenderam?

                         – Pearam-me as quatro patas e puseram-me umas rédeas amarradas a
                  uma campainha na parede do estábulo – ouviu-se a voz de Precioso.
                         – Sentinela, fique aqui, com as costas contra a parede. Assim. Agora,
                  Precioso, encoste a ponta do seu chifre contra o peito desse calormano.

                         – Com todo o prazer, senhor – disse o unicórnio.

                         – Se ele se mexer, espete-lhe o coração.

                         Em poucos minutos, Tirian cortou as cordas. Com o que conseguiu
                  aproveitar  delas  amarrou  o  sentinela,  atando-lhe  as  mãos  aos  pés.
                  Finalmente, fez o homem abrir a boca, entulhou-a de capim e, em seguida,
                  amordaçou-o de tal  forma  que  lhe seria  impossível  fazer  qualquer  ruído;
                  depois colocou-o sentado no chão, de costas contra a parede.

                         – Fui um pouco indelicado com você, soldado – disse Tirian. – Mas
                  eu precisava fazer isso. Caso nos encontremos de novo, espero poder tratá-
                  lo um pouco melhor. E agora, Precioso, vamos sair daqui, com cuidado.
                         Tirian  passou  o  braço  esquerdo  em  volta  do  pescoço  do  animal,
                  inclinou-se  e  beijou-lhe  o  focinho;  estavam  ambos  muito  felizes.  Tão
                  silenciosamente quanto possível, voltaram para o lugar onde Tirian havia
                  deixado as crianças. Embaixo das árvores estava muito mais escuro, e ele
                  quase esbarrou em Eustáquio antes de enxergá-lo.

                         – Tudo bem – sussurrou. – Um bom trabalho noturno. Agora, para
                  casa.

                         Viraram-se  e  já  haviam  dado  alguns  passos  quando  Eustáquio
                  chamou:

                         – Jill, onde está você? – Ninguém respondeu. –Senhor, por acaso Jill
                  está do seu lado? – perguntou.
                         – O quê? ! – disse Tirian. – Pensei que ela estivesse do seu lado!

                         Foi  um  momento  terrível.  Não  ousaram  gritar,  mas  sussurravam  o
                  nome dela o mais alto possível. Ninguém respondia.
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