Page 690 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
P. 690

–  De  fato,  meu  jovem  –  concordou  Tirian. –  Ela  não  foi feita  por
                  nenhum anão narniano. E uma malha da Calormânia, porcaria estrangeira.
                  Sempre conservei algumas dessas vestimentas em prontidão, pois nunca se
                  sabe  quando  será  preciso  passar  pelas  terras  do  Tisroc  sem  ser  visto.  E
                  vejam só esta garrafa de pedra. Aqui dentro tem um líquido que, esfregado
                  no rosto e nas mãos, faz a gente ficar moreno como os calormanos.

                         – Oba! – exclamou Jill. – Um disfarce! Adoro disfarces!

                         Tirian mostrou-lhes como pingar um pouquinho do líquido na palma
                  da mão e depois esfregar no rosto e no pescoço, descendo para os ombros,
                  fazendo  depois  o  mesmo  nas  mãos  e  cotovelos.  Ele  mesmo  se  besuntou
                  também.

                         – Depois que isto seca na pele – explicou ele –, pode-se até lavar que
                  a cor não muda. Só com óleo e cinza se fica branco de novo. E agora, Jill
                  querida, vamos ver como fica esta malha em você. É um pouco comprida,
                  mas não tanto quanto eu pensei. Sem dúvida, pertenceu a algum pajem do
                  séquito de um dos tarcaãs calormanos.
                         Depois  de  vestir  as  cotas  de  malha,  colocaram  uns  elmos
                  calormanos, pequenos e redondos, que encaixam bem na cabeça e têm uma
                  ponta no alto. Em seguida, Tirian tirou do baú uns rolos compridos de uma
                  coisa  branca  e  foi  enrolando  por  cima  dos  elmos  até  que  estes  viraram
                  turbantes;  mesmo  assim,  a  pontinha  do  elmo  ainda  aparecia.  Ele  e
                  Eustáquio armaram-se com espadas curvas calormanas e escudos pequenos
                  e redondos. Como não havia uma espada que fosse leve o bastante para Jill,
                  o rei deu-lhe uma faca de caça comprida e reta; em caso de emergência,
                  esta lhe serviria de espada.

                         – Sabe manejar o arco, senhorita? – perguntou o rei.

                         – Não muito bem – respondeu a menina, corando. – Eustáquio é que
                  é bom nisso.

                         –  Conversa dela,  senhor – disse  Eustáquio.  –  Nós dois  praticamos
                  arco e flecha desde que voltamos de Nárnia a última vez, e ela é quase tão
                  boa quanto eu. Não que a gente seja tão bom, mas...

                         Então Tirian entregou a Jill um arco e uma aljava cheia de flechas.
                  Agora era tratar de acender um fogo, pois, por dentro, aquela torre mais
                  parecia  uma  caverna  do  que  uma  casa,  e  dava  até  calafrios.  Mas  só  de
                  juntar lenha eles já se aqueceram (agora o sol já estava a pino); e quando as
                  labaredas começaram a crepitar chaminé acima o lugar ficou até agradável.
                  O almoço, no entanto, foi uma comida muito sem graça, pois o máximo
                  que  conseguiram  fazer  foi  picar  umas  bolachas  duras,  que  acharam  num
                  dos baús, e colocá-las para ferver com água e sal, fazendo uma espécie de
                  mingau. Para beber, é óbvio, nada além de água.
   685   686   687   688   689   690   691   692   693   694   695