Page 692 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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UM BOM TRABALHO NOTURNO
Só umas quatro horas mais tarde Tirian atirou-se num dos beliches
para tirar uma soneca. As duas crianças já estavam roncando: ele as fizera
ir para a cama mais cedo porque teriam de ficar acordadas a maior parte da
noite, e Tirian sabia que, sem dormir, crianças daquela idade não
agüentariam. Além disso, deixara os dois cansados demais. Primeiro tinha
treinado arco e flecha com Jill e descobrira que, embora não atingisse os
padrões narnianos, ela de fato não era tão ruim assim. Na verdade,
conseguira acertar um coelho (não um coelho falante, é claro; naquela
região de Nárnia existem muitos coelhos comuns), que já estava sem o
couro, limpo e dependurado. Tirian descobrira que as duas crianças sabiam
tudo sobre esse trabalho deprimente e malcheiroso, que haviam aprendido
na sua grande viagem pela terra dos gigantes, nos dias do príncipe Rilian.
Em seguida, tentara ensinar Eustáquio a usar a espada e o escudo. O
menino já aprendera bastante sobre o uso da espada lutando nas suas
primeiras aventuras, mas ele só conhecia a espada reta narniana. Nunca
havia manejado uma cimitarra calormana, e não foi nada fácil, pois muitos
dos golpes são completamente diferentes, e alguns hábitos que ele adquirira
usando a espada comprida tinham de ser aprendidos de novo. Tirian
percebeu, no entanto, que ele tinha bom olho e era muito rápido com os
pés. Ficou surpreso com a força das duas crianças: na verdade, ambas
pareciam agora muito mais fortes, maiores e mais maduras do que quando
as encontrara pela primeira vez, poucas horas atrás. Esse é um dos efeitos
que a atmosfera de Nárnia produz nos visitantes do nosso mundo.
Os três concordaram que a primeira coisa a fazer era voltar à Colina
do Estábulo e tentar libertar Precioso, o unicórnio. Depois, se fossem bem-
sucedidos, fugiriam para o leste, ao encontro do pequeno exército que
Passofirme, o centauro, estaria trazendo de Cair Paravel.
Um guerreiro e caçador experiente como Tirian jamais tem
dificuldade de despertar à hora que deseja. Assim, depois de ter dito a si
mesmo que acordaria às nove horas da noite, deixou todas as preocupações
de lado e adormeceu no mesmo instante. Quando despertou, teve a
impressão de que haviam transcorrido não mais que alguns minutos, mas
sabia, pela luminosidade e pelo próprio aspecto das coisas, que dormira
exatamente o tempo que havia determinado. Levantou-se, colocou o elmo-
turbante (ele dormira com a cota de malha) e então sacudiu as crianças para