Page 665 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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                                                        A PRECIPITAÇÃO DO REI





                         Umas três semanas mais tarde, o último rei de Nárnia estava sentado
                  debaixo de um grande carvalho que crescia à entrada do seu alojamento de
                  caça,  onde  ele  costumava  passar  uns  dez  dias  durante  a  primavera.  O
                  alojamento era uma construção baixa, coberta de sapé, não muito distante
                  do lado oriental do Ermo do Lampião e um pouco acima do encontro dos
                  dois  rios.  O  rei  adorava  aquela  vida  tranqüila  e  relaxada,  longe  das
                  preocupações  e  das  pompas  de  Cair  Paravel,  a  cidade  real.  Chamava-se
                  Tirian e tinha entre vinte e vinte e cinco anos. Seus ombros eram largos e
                  fortes e os membros rijos e musculosos, mas a barba era ainda bem rala.
                  Tinha olhos azuis e uma expressão honesta e corajosa.

                         Não havia ninguém com ele naquela manhã de primavera, exceto seu
                  amigo mais íntimo, o unicórnio Precioso. Os dois amavam-se como irmãos
                  e,  em  guerras  anteriores,  ambos  já  haviam  salvo  a  vida  um  do  outro.  O
                  nobre  animal  estava  bem  pertinho  do  rei  e,  com  o  pescoço  encurvado,
                  ocupava-se em  lustrar  o belo  corno azul, esfregando-o  contra a  brancura
                  cremosa do próprio flanco.

                         –  Hoje  não  tenho  a  mínima  disposição  para  trabalhar  ou  praticar
                  esporte, Precioso – disse o rei. –Não consigo pensar em outra coisa a não
                  ser nessa maravilhosa notícia. Você acha que ainda hoje ouviremos algo
                  mais sobre isso?

                         – São as novas mais maravilhosas que já ouvimos em nossos dias, ou
                  mesmo  nos  dias  dos  nossos  pais  e  dos  nossos  avós,  senhor  –  respondeu
                  Precioso. – Se é que são verdadeiras.
                         – E como poderiam não ser verdadeiras? Já faz mais de uma semana
                  que os primeiros passarinhos chegaram voando e nos disseram que Aslam
                  está  aqui,  que  Aslam  está  de  volta  a  Nárnia.  Depois  disso  foram  os
                  esquilos. Não o avistaram, mas disseram que era certo que ele estava na
                  floresta. E aí chegou o cervo e disse que o vira com seus próprios olhos,
                  bem de longe, ao luar, no Ermo do Lampião. Depois veio aquele moreno
                  barbudo, o mercador da Calormânia. Os calormanos não ligam muito para
                  Aslam como nós, mas a maneira como o homem falou não deixa dúvida
                  alguma. E na noite passada foi o texugo, que também viu Aslam.
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