Page 666 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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– De fato, senhor – disse Precioso –, eu acredito. Se parece que não
                  acredito é porque a minha alegria é tão grande que não consigo acreditar
                  em mim mesmo. É quase bonito demais para ser verdade.

                         –  Pois  é  –  disse  o  rei  com  um  grande  suspiro,  quase  um
                  estremecimento de prazer. – É muito além do que eu poderia imaginar em
                  toda a minha vida.

                         –  Ouça!  –  exclamou  Precioso,  voltando  a  cabeça  para  um  lado  e
                  empinando as orelhas.

                         – O que é isso? – perguntou o rei.
                         – Cascos, senhor – respondeu Precioso. – Um cavalo a galope. Deve
                  ser um dos centauros. Veja, lá está ele.

                         Um  grande  centauro  de  barbas  douradas,  com  suor  de  homem  na
                  testa e suor de cavalo nos flancos, precipitou-se em direção ao rei, parou e
                  inclinou-se  numa  reverência.  “Salve,  Majestade!”,  exclamou,  numa  voz
                  profunda como a de um touro.

                         – Ei, vocês! – disse o rei, olhando por cima dos ombros na direção da
                  porta do alojamento de caça.

                         –  Uma  taça  de  vinho  aqui  para  o  nobre  centauro.  Bem-vindo,
                  Passofirme.  Recupere  o  fôlego  primeiro  e  depois  transmita-nos  a  sua
                  mensagem.

                         Um  pajem  saiu  da  casa  trazendo  uma  grande  taça  de  madeira
                  curiosamente  entalhada  e  entregou-a  ao  centauro.  Este  ergueu  a  taça,
                  dizendo:
                         – Bebo a Aslam e à verdade em primeiro lugar, senhor, e depois à
                  saúde de Vossa Majestade!

                         Bebeu  o  vinho  de  um  trago  (a  quantidade  era  suficiente  para  seis
                  homens fortes), devolvendo ao pajem a taça vazia.

                         –  E  agora,  Passofirme  –  disse  o  rei.  –  Será  que  nos  traz  alguma
                  notícia de Aslam?

                         O centauro fitou-o muito sério, franzindo um pouco as sobrancelhas.
                         – Senhor – disse ele –, bem sabeis há quanto tempo venho estudando
                  as  estrelas,  pois nós,  os  centauros,  vivemos  mais  do  que vós,  homens,  e
                  ainda mais do que vós, unicórnios. Jamais, em toda a minha vida, vi coisas
                  tão terríveis escritas nos céus quanto as que vêm aparecendo a cada noite,
                  desde o início deste ano. As estrelas nada dizem sobre a vinda de Aslam,
                  nem sobre paz ou alegria. Pelos meus conhecimentos, sei bem que, nestes

                  quinhentos anos, jamais ocorreu tão desastrosa conjunção de planetas. Já
                  estava pensando em vir prevenir Vossa Majestade de que algum grande mal
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