Page 660 - As Crônicas de Nárnia - Volume Único
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Então  o  macaco  prometeu,  e  Confuso  saiu  trotando  em  volta  da
                  margem rochosa do lago, procurando um lugar de onde pudesse pular. Não
                  era brincadeira saltar dentro daquela água agitada e espumejante – e isso
                  para  não  falar  do  frio!  Confuso  ficou  um  tempão  parado,  tremendo,
                  tentando criar coragem.

                         Mas aí Manhoso gritou lá de trás:

                         – Talvez seja melhor eu ir, Confuso!

                         Ao ouvir isso, o jumento apressou-se:
                         – Não, não! Você prometeu! Já estou indo! – E pulou.

                         Um monte de espuma espirrou-lhe na cara, enchendo-lhe a boca de
                  água  e  cegando-lhe  os  olhos.  Durante  alguns  minutos  ficou  submerso,  e
                  quando  voltou  à  tona  encontrava-se  num  ponto  totalmente  diferente  do
                  lago. Então o redemoinho o pegou, e foi rodopiando cada vez mais rápido,
                  carregando-o para mais e mais longe, até deixá-lo exatamente debaixo da
                  queda-d’água. E a força da água arrastava-o cada vez mais para o fundo, de
                  tal  forma  que  ele  pensou  que  não  conseguiria  reter  o  fôlego...  Até  que
                  começou a subir novamente. Quando voltou à superfície e afinal conseguiu
                  chegar perto da coisa que estava tentando alcançar, esta saiu boiando para
                  longe  dele  e  foi  cair  bem  embaixo  da  queda-d’água,  que  a  fez  afundar
                  também.  Quando  a  coisa  voltou  à  tona,  estava  muito  mais  longe  do que
                  nunca. Finalmente, quando já estava quase morto de cansaço, todo doído e
                  dormente  de  frio,  conseguiu  agarrá-la  com  os  dentes.  E  lá  veio  ele  pelo
                  lago, carregando à frente aquela coisa enroscada nas patas dianteiras, pois
                  era um pelego enorme, muito pesado, frio e cheio de lodo.

                         Confuso  atirou  a  coisa  aos  pés  de  Manhoso  e  ali  ficou,  todo
                  encharcado,  tiritando  de  frio  e  tentando  recuperar  o  fôlego.  O  macaco,
                  porém, nem sequer olhou para ele ou perguntou como se sentia. Manhoso
                  estava  muito  ocupado  dando  voltas  e  mais  voltas  ao  redor  da  coisa.
                  Esticava,  alisava,  cheirava...  E  de  repente  seus  olhos  brilharam  com  um
                  sorriso malicioso e ele exclamou:

                         – É uma pele de leão!

                         – Eh... ha... ha... é... mesmo? – ofegou Confuso.
                         –  Eu  só  queria  saber...  o  que  será...  será  que...  –  dizia  Manhoso
                  consigo mesmo, pensando profundamente.

                         –  Quem  será  que  matou  o  pobre  do  leão?  –  perguntou  Confuso
                  depois  de  alguns  instantes.  –  Ele  precisa  ser  enterrado.  Vamos  fazer  um
                  funeral.

                         – Ora, não era um leão falante – replicou Manhoso. – Nem precisa se
                  preocupar com isso. Não existem mais animais falantes do lado de lá das
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