Page 16 - Quando chegar a primavera
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riados.
De surpresa, a alegria rompeu-se em lágrimas. Na porta da
antessala, ágeis enfermeiros, conduzidos por Lícia Dória, amparam,
esquálido e inerme, o corpo de Túlio Bolton, em direção ao quarto.
Momentos antes, Túlio fora encontrado semidesperto, estado esse
provocado por ingesta de mistura de bala (ecstasy) e doces (LSD). O
quadro era devastador. Frente a frente, Flávia e Alexandre distribuíram-
se na tarefa de consolar D. Anória e acolher, ainda inconsciente, Túlio
Bolton. Rapidamente, subiam e desciam escadas, circulando e
agradecendo a equipe socorrista pelos serviços prestados. A situação
era constrangedora. Aquela era a quinta vez que se mantinha o
ocorrido, em circunstâncias nada diferentes das anteriores.
O aviso foi anunciado. Não mais levariam em conta os préstimos e
considerações obtidos pelo falecido Edison Bolton. Na primeira
reincidência, o destino, posterior ao hospital, seria a delegacia. Em
seguida, os socorristas endereçaram-se até os aposentos de D. Anória,
administrando-lhe potente sedativo. Advertiram reconhecer piora no
quadro clínico observado, indicando aos presentes, internação
imediata. Alexandre, Flávia e Lícia se entreolhavam sutilmente.
Rompeu-se o silêncio, quando Flávia, acolhedora e altiva disse:
cuidaremos de tudo.
Fazia frio. Após cinco horas, todos escutaram berro estridente, vindo
do interior do quarto de Túlio. Subiram as escadas, ofegantes e
apreensivos. Ao abrir a porta, depararam-se com manifestação ferina,
quase animalesca, vinda de Túlio. Sem esperar, Flávia estava sob o
domínio furioso de um esganamento feito pelo irmão insandecido.
Alexandre, em agílimo movimento, cruzou o próprio antebraço em
transversalidade ao oponente, empurrando-lhe as mandíbulas para
cima, com os dedos mindinhos dentro das fossas nasais, na mesma
direção e sentido. Em seguida contorceu o pescoço de Túlio para um
dos lados, interrompendo o fluxo respiratório. Em desespero, sob forte
reação, Túlio Bolton, tomado por invisível força, vocifera:
_ Desgraçado! Então, aí está você. Venha agora, seu maldito! Vou te
carregar comigo aos caldeirões do inferno. Venha! Venha proteger essa
miserável e repugnante criatura. Venha! Tenha coragem, santo de galo-