Page 17 - Quando chegar a primavera
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                                                        cha! Estou atenta aos seus caprichos. Não é ela a quem desejo matar.


                                                        Venha! Venha!




                                                            Alexandre não entendia o motivo de sentir na intimidade, profundo


                                                        desconcerto  psicológico.  Estava  atônito,  desorientado.  Aquelas


                                                        expressões, tão familiares, em nada se parecia com a personalidade de

                                                        Túlio.  Mesmo  nas  piores  situações  de  confronto,  aquela  força


                                                        descomunal,  aquela  rispidez  não  lhe  era,  nem  de  longe,  traço


                                                        característico.  Seriam  efeitos  do  uso  prolongado  das  drogas  ilícitas?  Os


                                                        pensamentos desalinharam-se completamente. E, de improviso, estava


                                                        frente a frente com a ensurdecedora transfiguração. Agora, como fera


                                                        astuta diante da presa desorientada, lentamente pode ouvir:




                                                        _ Estás com medo e assustado, idiota? - Soltando uma gargalhada oca,


                                                        esfregou as mãos.





                                                            No corpo, percorriam fios invisíveis de carga elétrica de gigantesca


                                                        potência, impedindo qualquer tipo de reação. Em pensamento, como

                                                        um raio desgovernado, emerge a figura de ostentosa dama de favores,


                                                        sobejando  atração  sexual  de  irresistível  monta.  Estava  aflito  e


                                                        perturbado.  Não  via  mais  a  figura  de  Túlio  à  frente.  Então,  a  odienta


                                                        criatura  deposita  em  suas  gônadas,  cristalizada  pasta  de  cor  rubra,


                                                        seguida de ritualístico pronunciamento, dizendo:




                                                        _  O  galo  contorce  o  milho,  floco  leve  em  mudança,  o  mar  arrebenta


                                                        corrente. Você que me pertence, você me pertence!  E, prosseguiu, em voz


                                                        de mais forte amplitude: se não me pertences mais, se não me serve ao


                                                        brio e a glória prometidas, rompo-te a vida, ceifo tuas graças e faço de tuas


                                                        feridas minha vitória.




                                                                Um  calafrio  abjeto  apossou-se  de  todos  os  que  estavam  no


                                                        ambiente. Do mesmo modo inesperado, Túlio, prostrou-se ao chão, em


                                                        lágrimas.  Foi  quando  a  pequena  Flávia,  em  melhores  estados  de


                                                        consciência,  correu  em  direção  a  ambos,  abraçando-os  ao  mesmo


                                                        tempo. E, na lucidez de sua tenra idade afirmou:




                                                        _  Vocês  se  encontraram!  Rogo  a  Deus  que  nos  proteja.  Em  prantos,


                                                        Alexandre tomou firmeza e, em força translúcida, disse: Estou pronto.


                                                        Não quero mais adiar esse momento. É hora de recomeçar.
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