Page 32 - Cassandra
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M I G U E L M A U R I T T I
A MALDIÇÃO DOS LITER ATOS A UTOPIA
Os Helénicos descansam, mortos, jazidos À borda do escuro empírico abismo
Os Olímpicos a outros mundos cometidos Esse sorri, assobia juvenis tons
Novos nascemos, velhos morremos agora Esse não teme do mundo o cataclismo
Sem intervenção ou interesse de fora Canta aos seus deuses terrenos pelos seus dons
Meus pobres olhos nunca viram o Dilúvio Na cidade desse vivem todos por um
E nunca respirei as cinzas do Vesúvio E livres de o fazer por próprio mérito
Não estava lá quando a caixa abriu Pandora Em grandes salões celebram o desjejum
Nem para nenhum dos grandes mitos d’outrora Aí vivem em fortaleza, em adérito
Onde eu vivo não há espaço para Argonautas São prósperos, fome é um desconhecido
E não sabemos voar em asas de cera Eles não roubam pois não têm porque roubar
E achamos Amazonas muito incautas Com todos partilhar tudo é costume tido
Apaixonara-me pelo que antes lera Esse inventa músicas a assobiar
E quis ver no mundo aventura, mudança E pinta as pinturas com todas as cores
Mas agora vejo que não há qualquer esperança Da vida está poupado todos os horrores
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