Page 21 - Na Teia - Mauro Victor V. de Brito
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que os juízes possam avaliar o seu grau de periculosidade”. Entre
dezembro de 1976 e julho de 1977, foram 460 travestis detidas,
número subnotificado. No encalço dessa ação, começaram a surgir
grupos de extermínios que perseguiam a mesma população e deixa-
ram marcas em diversos locais da cidade. Guido Fonseca ainda
foi autor de diversos estudos criminológicos sobre o aumento da
prostituição em São Paulo, e a memória construída pelo autor em
sua obra mostra os esforços dos poderes judiciários e executivos
em tentar controlar as sexualidades identificadas como perverti-
das, repressão essa que seguiu durante o governo de Paulo Salim
Maluf (1979-1982), com rondas de policiamento ostensivo inten-
sificado na região central da cidade.
O NOVO “CÂNCER”
Entre os anos de 1977 e 1978 são registrados os primeiros casos
de AIDS nos Estados Unidos, Haiti e África Central. Em 1980,
é registrado o primeiro caso da doença do Brasil e em 1981, o
Jornal do Brasil publica uma matéria com o título: “Câncer em
Homossexuais é pesquisado nos EUA”. Dois anos depois, a mídia
começa a noticiar os primeiros casos da AIDS no Brasil, e, em 1984,
o Boletim Epidemiológico do Governo Federal registra 105 mortes
relacionadas à doença no país (dado divulgado posteriormente).
O que se observa no período é a criação de um discurso coletivo
entre autoridades e mídia, assim fomentando a opinião pública a
dar enfoque nos casos de AIDS descobertos na população LGBT,
invisibilizando casos de contaminação entre heterossexuais. Boa
parte dessa invisibilidade se dava e se dá até hoje ao fato recorrente
de homens casados que mantêm relações sexuais com prostitutas
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