Page 20 - Na Teia - Mauro Victor V. de Brito
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problemas sanitários da sociedade contemporânea que desenca-
deiam essa e outras doenças.
É correto afirmar, então, que o preconceito em torno da sexua-
lidade — incluindo contra travestis — está na sociedade há tanto
tempo quanto essa população se faz presente. Indo para os anos
de 1960 e 1970, podemos observar a primeira grande onda de
libertação sexual em todo o mundo, acontecimentos históricos
como o “Maio Francês”, a luta contra a invasão do Vietnã e até
mesmo a revolta de Stonewall, em 1969, mostram como já borbu-
lhavam, em diversas partes do mundo, grupos políticos voltados
à luta por igualdade.
Instaurada em 1964, a ditadura militar acaba retardando a
chegada dessa movimentação ao Brasil, onde, à época, qualquer
sexualidade não heterossexual era tratada como pecadora, doente
e um atentado à família. Começa então uma ampla campanha pela
moral e os bons costumes. São Paulo, como o estado mais impor-
tante do ponto de vista econômico, se torna um alvo privilegiado
dessa repressão. A lei da vadiagem, existente no país desde 1924,
passou a ser utilizada na metrópole como forma de violência sobre
as populações mais vulneráveis e sem recursos para cumprir as
obrigações legais, sendo em sua maioria LGBTs, com foco em
mulheres trans e travestis.
O delegado de Polícia em São Paulo, nas décadas de 1970 e 1980,
era Guido Fonseca, autor do livro “História da Prostituição em São
Paulo”. Por meio da portaria 390 de 1976 da Delegacia Seccional
Centro e sob o governo de Paulo Egydio Martins, Fonseca autori-
zou a prisão de “todos os travestis da região central da cidade para
averiguações”. Segundo a portaria, deveria se fazer um cadastro
de cada pessoa detida “ilustrado com fotos do pervertido, para
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