Page 45 - Na Teia - Mauro Victor V. de Brito
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TECENDO NOVAS TEIAS
Nascido no município de Itamaraju, interior da Bahia, Helcio
Beuclair foi criado por uma conhecida família da região, extre-
mamente religiosa e com pensamentos ultraconservadores. O
privilégio de fazer parte de uma tradicional família de classe média
alta baiana não privou o jornalista de sofrer as consequências da
homofobia latente enraizada na família: antes de se mudar para
São Paulo, para fugir da repressão, Helcio tentou suicídio três
vezes. Quando se vê próximo da quarta tentativa, o jornalista
conta com o apoio de um amigo que morava na capital paulista
e vai para a cidade, em 2008, aos 24 anos, com algumas poucas
roupas que a família lhe permitiu e com apenas R$50,00 no bolso.
Um dos primeiros lugares a que Helcio foi apresentado em São
Paulo foi a Rua Vieira de Carvalho, no centro da cidade.
“Eu fiquei em choque com as mulheres e homens LGBTs de mãos
dadas e a polícia passando sem fazer nada. Crianças passando perto
e as pessoas que as acompanhavam não se manifestavam... ninguém
xingava ou olhava estranho”.
Meses depois, Beuclair se depara com outra realidade da cidade:
a dificuldade em se colocar no mercado de trabalho. Para sobre-
viver, ele resolve então se prostituir, e, sem conseguir pagar as
contas do apartamento onde morava, Helcio acaba indo morar
na rua por algumas semanas. O baiano consegue se restabelecer
com o apoio de amigos, e, em 2013, passa a frequentar manifes-
tações das Jornadas de Junho.
“É nesse momento que eu tive o primeiro contato com o exercício
político. Em 2014, participei da campanha da Dilma, sem me filiar
ao partido, apenas distribuindo os folhetos na região do centro de São
Paulo e conhecendo grupos de militantes que atuavam na mesma área
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