Page 47 - Na Teia - Mauro Victor V. de Brito
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UMA NOVA OPERAÇÃO HIGIENISTA
“Vamos trazer vida à região do Largo do Arouche”. Essas foram
as palavras de João Dória Jr., em uma de suas primeiras coletivas
para apresentar propostas para a cidade de São Paulo enquanto
prefeito, no início de 2017. Uma fala um tanto quanto divergente
se confrontada com a realidade histórica da região arouchiana.
Um dos cenários mais emblemáticos do centro de São Paulo, o
Largo do Arouche, abriga a maior quantidade de estabelecimen-
tos voltados à população LGBT no mundo, segundo estudo do
Guia Gay São Paulo. São bares, hotéis, baladas, saunas, lojas e
até padarias destinadas a esse público, que tem circulação intensa
diariamente, com picos na semana da Parada do Orgulho LGBT
da cidade. A dispersão da maior parada do mundo acontece na
região da República e é no Arouche que grande parte do público
se reúne para continuar a festa. Além disso, a região foi, durante
anos, ambiente de uma das mais famosas sitcoms da TV brasi-
leira, o “Sai de Baixo”, da Rede Globo.
As parcerias com empresas privadas foram marca registrada da
gestão Dória. A partir de uma colaboração entre a rede de hiper-
mercados Carrefour, o Instituto Cidade em Movimento – Institut
pour la Ville en Mouvement (IVM), o escritório de arquite-
tura Triptyque Architecture e o Consulado Francês no Brasil,
a prefeitura de São Paulo apresentou, em 2017, um projeto para
revitalizar o Largo do Arouche, com a criação de um Boulevard
Francês. Tendo conhecimento do movimento organizado que já
se formara na região, o IVM e o Triptyque convidaram o Coletivo
Arouchianos para dialogar sobre o projeto.
“Era um projeto totalmente escuso, começamos a questionar o que
seria feito sobre a população que frequentava o espaço, como eles
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