Page 59 - Na Teia - Mauro Victor V. de Brito
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CONCLUINDO








           Quando olhamos para a única página de jornal que retrata a
           Operação Tarântula, não é possível observar tudo o que se escon-
           dia embaixo dos relatos dos militares. Uma realidade violenta, que
           produziu um rastro de sangue pelas ruas da maior cidade do país.
           Sangue de pessoas que tiveram sua dignidade roubada apenas

           por serem quem são, apenas por não conseguirem se encaixar
           no padrão imposto por uma sociedade patriarcal, que utiliza da
           religião cristã para criar uma moral e um costume que pouco se
           assemelha ao Cristianismo.
             A fala dura, mas precisa de Neon Cunha, tem o objetivo de
           mostrar o que os jornais não contaram, o que pouco se ouviu falar,
           mas o que muito se viveu. Os relatos são de apenas uma pessoa, o
           que seu corpo sentiu e o que seus olhos viram quando era apenas
           uma adolescente. Se entrevistar mais duas, três, dez sobreviven-

           tes do período, quantas mais realidades emergiriam das ruas do
           centro de São Paulo? Os registros oficiais não mostram ao certo
           quantas foram realmente as travestis e mulheres transexuais



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