Page 54 - Na Teia - Mauro Victor V. de Brito
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ter outras unidades do CREAS, a triagem é feita apenas em um
lugar para diminuir a demanda. Como o projeto tem apenas 30
vagas, uma fila de espera pode acabar gerando frustração nas
candidatas, que geralmente chegam até a casa com um perfil
bastante debilitado. O coordenador conta um pouco de como é
o processo de entrada.
“O CREAS encaminha a inscrição para a assistência social, que faz
uma entrevista com a candidata e ela já é acolhida logo em seguida.
Junto com a área de psicologia é desenvolvido o PIA (Plano Inicial
de Assistência), um plano de médio e longo prazo que reúne todas
as demandas individuais e traça objetivos. Grande parte das meni-
nas querem ser inseridas imediatamente no mercado de trabalho,
mas aí a gente percebe que há questões anteriores a serem soluciona-
das, como escolaridade, documentação, saúde etc. É aí que entra o
mapeamento do PIA.
Eu diria que a travesti ou a mulher trans que procura a casa já
chega com um perfil muito fragmentado, elas entendem que ali é a
última opção, pois acreditam que não servem para mais nada. Já
ouvi relatos de recém-chegadas que dizem que não servem mais nem
para a prostituição, que a cafetinagem não aceita mais aquele corpo
doente e fraco”.
O trabalho de Alberto e da equipe da Florescer é apresentar
e inserir as abrigadas em outra realidade. Com o plano traçado,
elas têm acesso a formações, oportunidades de trabalho, espaços
de lazer, cultura, atividades esportivas e atividades educativas,
como rodas de conversas temáticas, grupos de estudo etc. Não há
um tempo pré-determinado de permanência no abrigo, a rotativi-
dade nas vagas acontece quando a organização, junto à abrigada,
avalia que ela tem insumos suficientes para se manter fora da casa.
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