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Capítulo 14           Cesar na Caverna



                      Apesar  da  figura  fragilizada  de  Cesar  Astu  Ninan,  em  toda  sua  altura
                      encurvada  e  esquálida  provocar  pena  muito  além  do  medo,  os  animais
                      estavam inquietos com a presença dele no interior da caverna.


                      Espreitavam desconfiados aquele homem triste, com seus movimentos lentos
                      e silenciosos e um jeito tímido de curvar a cabeça. Com os esfiapados cabelos
                      brancos desalinhados, caídos sobre os olhos sonâmbulos que lutavam para
                      enquadrar adequadamente o foco do que observavam com duvidosa lucidez.

                      Embora  Maaho,  o  puma,  acreditasse  ser  Cesar  um  ente  mágico  do  bem  e
                      mesmo Loop, a raposa, encontrasse nele e na sua atitude pacata, humilde em
                      sua solidão incomensurável, provas definitivas para a crença num ser especial
                      que não era e nem nunca fora apenas humano, ainda assim, se mantinham
                      distantes,  temendo  por  não  compreenderem  os  sinais  inequívocos  de  sua
                      vontade férrea para se retirar espontaneamente da vida.

                      Os dias se passavam lentos e com eles o tempo para Cesar assumir de uma vez
                      por todas seu destino e sua responsabilidade naquele viés da existência que
                      traria as consequências eternas do retomar de um curso natural e contínuo,
                      ou levaria ao caminho da aniquilação total.


                      Os animais sentiam o escoar das horas preciosas em que uma decisão precisava
                      ser tomada e se assustavam com a imobilidade e com o silêncio teimoso do
                      homem, conscientes de que pouco a pouco seu próprio entendimento daquele
                      momento mágico ia se perdendo e suas mentes simples voltavam ao domínio
                      dos mais primitivos e fortes instintos.

                      Lentamente,  com  precisão  imperturbável,  o  fino  e  imperceptível  véu  da
                      irracionalidade ia descendo e nublando as mentes dos animais, forçando-os ao
                      esquecimento da sua condição extraordinária. Aos poucos as horas assumiam
                      sua característica do passar imperturbável da existência que se perdia entre a
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