Page 226 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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incompreensível para ouvidos humanos e repetia tentativas inúteis para fazê-
lo aceitar as colheradas de uma sopa morna.
Era o terceiro dia que não conseguiam, nem ela e nem ninguém mais,
persuadi-lo a comer. O médico, Júlios Longarcco, havia avisado que não
poderia permitir que continuasse assim, teriam que levá-lo para um hospital.
Triste com mais um fracasso nos seus esforços de resgatar Cesar para a vida,
Isabeau se levantou, finalmente disposta a buscar a orientação do médico
para providenciar o internamento. Mas foi então que uma mão
aparentemente muito fraca e magra segurou-a pelo pulso impedindo-a de se
afastar.
Espantada Isabeau se voltou para encarar o rosto de fantasma com olhos
negros esmaecidos até se tornarem cinzas brilhantes e febris e se encheu de
surpresa ao sentir a voz cheia de força e a vontade com um vigor inesperado.
“__Haverão de chegar para o jantar.” Avisou Cesar para o seu espanto.
“__Quem?” Perguntou ela, aproximando seu rosto e ouvido da boca de Cesar,
pois nos últimos tempos, tudo para ele parecia merecer o tratamento dos
segredos de morte. “__O cão e o gato.” Respondeu Cesar Ninan se recusando a
qualquer outra explicação. Mas, depois disso apressou-se a tirar da bandeja o
prato de fina porcelana onde boiava um caldo espesso de galinha gorda
engrossado com arroz e batatas e antes que Isabeau tivesse tempo de impedi-
lo, ele já havia usado o prato como se fora um copo, virando tudo goela
abaixo, sem se importar por se lambuzar com o líquido gorduroso a se
esparramar por seu torso, mãos, braços e pernas.