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Mas ainda assim não conseguiu enganar totalmente um rígido senso de
responsabilidade e condenou-se a ser assombrado por isso pelo resto da sua
existência.
Ao completar seus setenta anos, Cesar definia a si mesmo como medíocre e
considerava este título como o mais dolorosamente justo para atribuir a si
mesmo em reconhecimento do próprio fracasso.
Vivia em Roma. Num pequeno e primoroso apartamento em estilo bizantino,
com predominância dos detalhes dourados em ricos mosaicos espalhados pelas
paredes e sobre os arcos em estonteante profusão, totalmente restaurado e
modernizado em seus mais de quatrocentos anos.
Uma pequena joia arquitetônica recheada de obras de arte, livros raros,
coleções finíssimas de porcelana e cristais e cuidadosamente mobiliado e
decorado com cores aveludadas, quentes e sedutoras num perfeito equilíbrio
com as cores fortes do estilo, para dar ao seu morador a calmante sensação de
aconchego. Ali, Cesar conseguia se sentir seguro e razoavelmente satisfeito na
sua necessidade quase doentia de solidão e fuga introspectiva.
Havia sempre música suave, havia sempre flores frescas em vasos de cristal,
havia sempre o delicado perfume de rosas amarelas se espalhando desde os
cantos e de sob almofadas, toalhas de mesa e tapetes, efeito dos saches com as
pétalas das flores que eram confeccionados especialmente para ele.
Era atendido em suas necessidades por três empregados membros de uma
mesma família. Um casal em que a mulher era a cozinheira, também
encarregada pelas compras de alimentos, mantimentos e demais itens
necessários à vida na casa, o marido, um vigoroso senhor de meia idade que
servia como camareiro, mordomo, motorista, assistente pessoal e guarda
costas e a jovem filha de ambos que era copeira e fazia a limpeza, cuidando
dos detalhes tais como a renovação diária das flores e dos saches perfumados.