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Capítulo 15 Odaye Therak, O de Asas Brancas de Prata
As avaliações mais sinceras sobre seu caminhar pela existência faziam Cesar
Astu Ninan se reconhecer de total inutilidade. Principalmente considerando
as últimas décadas em que se arrastara pela vida.
Tentava não pensar demasiadamente sobre isso e uma análise mais ou menos
minuciosa foi feita há muitos anos ao lado dos túmulos recém ocupados por
seus pais, seus irmãos e seus sobrinhos, ocasião que marcou o início daquele
longo período de vazio e em que um desalento insidioso se instalou
permanentemente sobre seus ombros curvados à inexorabilidade da morte.
Julgava-se pouco ou nada confiável. Tímido, inseguro, perfeitamente
consciente de não corresponder ao altíssimo conceito que seus semelhantes
insistiam em ter dele, além de se considerar definitivamente culpado pelo
enorme desapontamento que marcou os últimos anos de seu relacionamento
com seus pais.
A carreira musical, eleita por eles como redentora da existência de Cesar foi
sendo abandonada sistemática e paulatinamente em cada uma das suas
nuances como quem desfolha as pétalas de uma flor preciosa, rara, mas
destinada a inevitável destruição pela simples verdade de Cesar não conseguir
se acreditar à altura dos padrões mínimos que o fariam se revelar o gênio
executor ou criador, intérprete, virtuoso ou compositor que se anunciou ao
mundo que ele seria.
Excluíra-as, a cada uma destas atividades que aprendera com sua mãe a amar,
até afasta-las totalmente da sua vida. Fechou para sempre o piano, encerrou
o violino em sua caixa, destruiu as partituras.