Page 399 - Girassóis, Ipês e Junquilhos Amarelos - 13.11.2020 com mais imagens redefinidas para PDF-7
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dos Mantos e de Nuna Sapaki. Rosário não sabia que Cesar mantinha a nitidez
das próprias alucinações como uma espécie de bússola a orientar seu caminho,
e até que ponto ela mesma, transmutada em Loop, a raposa, era parte
fundamental desse mundo mágico entre as realidades paralelas.
Cesar estava trocando definitivamente o permanente e real pelo
impermanente e irreal, encantado por apreciar e compreender muito mais sua
realidade de sonhos e de asas agitadas em voos sublimes.
Aos poucos Rosário ia percebendo tudo isso.
Surpreendia Cesar nas suas longas conversas com os seres do seu mundo
imaginário e avaliava com razoável precisão o grau das alucinações e o quanto
o fato de Cesar vê-la na forma de seu animal de poder segundo a crença da sua
tribo materna, contribuía para o bom relacionamento deles e o andamento
dos trabalhos à medida que aumentava a confiança que ele tinha nela. Depois
de uma longa reflexão decidiu que só importava sabê-lo um bom homem com
um potencial criativo e talento extraordinários, motivado por um nobre
propósito. Convencida de que a loucura era parte do gênio criativo de Cesar,
decidiu aceita-la pelo que era, simplesmente, e a partir disso nem sequer se
abalava quando ele a chamava de Loop.
Alheio a essas reflexões de Rosário ou Isabeau ou quem quer que tentasse
analisa-lo, Cesar de adaptava às únicas mudanças realmente significativas em
sua vida, e precisou desenvolver um mecanismo para diminuir a dor das suas
perdas.
Resignou-se às mortes de Nuna Sapaki e de Odaye Therak, mas começou a
atrair o fantasma de Victor para longas conversas, que eram interrompidas
pela morte que chegava sem ser convidada e se interpunha ciumenta porque
sucumbira aos encantos de Victor e o queria só para si. Algumas conversas
entre os três foram memoráveis para Cesar.