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Victor contou os detalhes do seu encontro com os anciãos Yana, perdidos na
                      sua profunda perturbação de velhos putrefatos agarrados às ilusões de riqueza
                      e poder eternos por venderem suas almas aos demônios e esperarem em troca
                      as glorias dos deuses. Insanos, perdidos entre os perdidos, malditos entre os
                      malditos  por  não  respeitarem,  mesmo  o  que  os  piores  entre  os  profanos
                      respeitavam, um limite para sua profanação, uma linha de conduta muito
                      clara e definida abaixo da qual não permitiriam deixar cair suas almas, um
                      nível mínimo que jamais ultrapassavam porque estariam se colocando além
                      de qualquer perdão possível mesmo para os mais misericordiosos deuses.


                      Aproveitando-se do poder de Cesar de encontra-lo nos jardins do além, Victor
                      perguntou sobre os acontecimentos em Mayuasiri Pacha após sua partida,
                      porque a morte, ao toma-lo para si, segurou nas mãos seu coração partido pela
                      dor e se apiedou dele fazendo turvarem-se seus olhos com lágrimas, como um
                      véu espesso, para o impedirem de ver tudo o que a morte fazia surgir a cada
                      uma  das  suas  passagens.  Todos  os  gestos  e  todos  os  fatos,  palavras,
                      pensamentos,  desejos,  omissões,  covardias,  heroísmos,  indiferenças,
                      desesperos e provas de amor.

                      Victor  foi  impedido  de  conhecer  estas  revelações  embora  a  justiça  divina
                      assegure aos mortais o direito sagrado do conhecimento, nos seus derradeiros
                      instantes, de tudo imediatamente relacionado à sua vida e morte.

                      Então, Cesar para responder a ele mediu as palavras, porque seria preciso falar
                      sobre os novecentos e trinta e cinco mortos no templo Yana. Fanatizados e
                      condenados ao tolo e fútil sacrifício, entre eles alguns ignorantes do que lhes
                      aconteceria sob o comando dos anciãos Yana alucinados, que esperaram por
                      Victor para tê-lo, também a ele, numa sala com portas e janelas bem fechadas,
                      para darem o sinal aos encarregados de liberarem as centenas de pastilhas de
                      veneno  nos  difusores  de  ar  e  transformarem  as  dependências  dos  andares
                      superiores do templo em câmaras de gás e no cenário de um dos mais terríveis
                      pactos suicidas da história.
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