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Isabeau avaliou acertadamente que Rosário foi capaz de compreender muito
                      bem a disposição de Cesar que acreditou que para se salvar, deveria salvar o
                      mundo.


                      E compreendeu também que ele constatou em sua loucura, que o mundo de
                      Victor,  esse  mundo  real  de  Girassóis,  Ipês  e  Junquilhos  Amarelos  estava
                      definitivamente perdido, fora do seu alcance e por isso se obrigou, como única
                      alternativa  para  continuar  vivo,  assumir  o  âmago  da  sua  insanidade  e
                      incorporar a música que se apoderara dele ao ser testemunha da destruição do
                      mundo Res Sas e passar a identifica-la como a agonia sonora da guerra alada.

                      E  mesmo  sem  nenhum  conhecimento  sobre  as  visões  de  Cesar  ou  sobre  o
                      mundo  dos  seres  alados,  mesmo  com  apenas  uma  pálida  ideia  do  que
                      perturbava o espírito do homem que se acreditava mutilado das suas asas e
                      roubado  do  seu  direito  de  voar,  Rosário  era  capaz  de  reconhecer  o  gênio
                      criador e queria ajuda-lo na composição e na busca do sublime.

                      Ajudá-lo a incorporar e restaurar a música da vida. A música que Cesar nunca
                      mais deixaria de ouvir.


                      Rosário talvez tenha sido a única capaz de entender que Cesar agarrou-se à
                      música  porque  apenas  a  busca  eterna  de  um  algo  qualquer,  já  não  era  o
                      suficiente. E ali estava aquela sequência de sons que se sucediam e repetiam

                      perpetuamente, agarrados a ele, movendo sua consciência e direcionando sua
                      atenção  porque  era  evidente  que  aquela  música  continha  intrínseco,  um
                      código de desarmonia. Era uma música que hipnotizava, envolvia os sentidos,

                      confundia  os  desejos  e  se  tornara  sua  obsessão  porque  despertou  nele  seu
                      talento  negado  e  desrespeitado  por  muito  tempo.  Então  Cesar  assumiu  a
                      responsabilidade  de  destacar,  compreender  e  escrever  cada  nota,  medir  e
                      entender cada vibração para rastrear nessa escrita espiritual a desarmonia que
                      causou o colapso e a morte do mundo das alturas impossíveis.

                      O horror pela tragédia da guerra entre os seres alados o obrigou reconhecer
                      seu  dom.  E  Cesar  se  convenceu  de  que  a  vibração  daquelas  notas,  suas
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