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O conceito "lápis" é confundido com a "coisa" lápis. O "é" do juízo
       sintético é falso, comporta uma transposição, duas esferas de ordem
       diferente são comparadas, entre as quais uma equação jamais poderá ter
       lugar.

              Vivemos e pensamos no meio dos únicos efeitos do ilógico, no não-
       saber e no falso-saber.


                                         153


              Os indivíduos são as pontes sobre as quais repousa o devir. Todas
       as qualidades originalmente são apenas ações únicas, depois ações muitas
       vezes repetidas em casos semelhantes, enfim hábitos. Em toda ação toma
       parte a essência inteira do indivíduo e a um hábito corresponde uma
       transformação específica do indivíduo. Tudo é individual num indivíduo,
       até a menor célula; o que significa que a totalidade toma parte em todas as
       experiências e em todos os passados. Daí a possibilidade da procriação.


                                         154


              Pelo fato de seu isolamento algumas séries de conceitos podem se
       tornar tão veementes que atraem a si a força de outros instintos. É isso que
       ocorre, por exemplo, com o instinto do conhecimento.

              Uma natureza assim preparada, determinada até nas células, se
       perpetua então de novo e se transmite hereditariamente: desenvolvendo-se
       até que, por fim, a absorção orientada para um só lado destrua o vigor
       geral.



                                         155

              O artista não contempla "idéias": sente prazer com as relações
       numéricas. Todo prazer se baseia na proporção, todo desprazer numa
       desproporção. Os conceitos construídos sobre o modelo dos números.

              As intuições que representam boas relações numéricas são belas.

              O homem de ciência calcula os números aferentes às leis da
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