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Ora, não há expressão "intrínseca" e não há conhecimento
intrínseco sem metáfora. Mas a ilusão a esse respeito persiste, isto é, a
crença numa verdade da impressão sensorial. As metáforas mais habituais,
aquelas que são usuais, têm agora valor de verdades e de medida para as
mais raras. Somente aqui governa em si a diferença entre costume e
novidade, freqüência e raridade.
O fato de conhecer é somente o fato de trabalhar sobre as metáforas
mais aceitas, portanto, é uma forma de imitar que não é mais sentida como
imitação. Não pode, pois, naturalmente penetrar no reino da verdade.
O pathos do instinto de verdade pressupõe a observação de que os
diferentes universos metafóricos são desunidos e se combatem, por
exemplo, o sonho, a mentira, etc., contra a maneira de ver habitual e usual:
uma é mais rara, a outra mais freqüente. Assim o uso combate a exceção, o
regulamentar contra o inabitual. Disso decorre que o respeito pela realidade
cotidiana venha antes do mundo do sonho.
Ora, o que é raro e inabitual é o que possui mais encanto — a
mentira é sentida como sedução. Poesia.
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Todas as leis da natureza são apenas relações de um x a um y a um
z. Definimos as leis da natureza como as relações a um x, y, z, dos quais,
cada um por sua vez não nos é conhecido senão enquanto relação com
outros x, y, z.
Para falar com exatidão, o fato de conhecer tem a única forma da
tautologia e é vazio. Todo conhecimento que nos faz avançar é uma
maneira de identificar o não-idêntico e o semelhante, isto é, é
essencialmente ilógico.
É somente por essa via que adquirimos um conceito, depois do que
fazemos como se o conceito "homem" fosse algo de efetivo quando foi
criado por nós pelo fato do abandono de todos os traços individuais.
Postulamos que a natureza procede segundo esse conceito: mas aqui
primeiro a natureza e, a seguir, o conceito são antropomórficos. A omissão
do que é individual nos dá o conceito e com ele começa nosso