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conhecimento: na denominação, no estabelecimento dos gêneros. Mas é ao
que não corresponde a essência das coisas. Numerosos traços determinam
'para nós uma coisa, não todas: a identidade desses traços nos leva a
compreender vários objetos sob um mesmo conceito.
Nós produzimos os seres enquanto são portadores de qualidades e
as abstrações enquanto são causas dessas qualidades. O fato de que uma
unidade — uma árvore, por exemplo — nos apareça como uma
multiplicidade de qualidades, de relações, é duplamente antropomórfico:
primeiramente essa unidade delimitada "árvore" não existe; é arbitrário
recortar assim uma coisa (pelo olho, pela forma), essa relação não é a
verdadeira relação absoluta, mas está novamente tingida de
antropomorfismo.
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O filósofo não procura a verdade, mas a metamorfose do mundo
nos homens: luta pela compreensão do mundo com a consciência de si.
Luta em vista de uma assimilação: fica satisfeito quando consegue colocar
algo de antropomórfico. Do mesmo modo que o astrólogo vê o universo a
serviço dos indivíduos particulares, assim também o filósofo vê o mundo
como sendo um ser humano.
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A essência da definição: o lápis é um sólido alongado, etc. — A é
B. Aquilo que é alongado é aqui ao mesmo tempo colorido. — As
qualidades detêm somente relações. Um sólido determinado é igual a
tantas outras relações. As relações não podem nunca ser a essência, mas
somente conseqüência da essência. O juízo sintético descreve um objeto
segundo suas conseqüências, isto é, essências e formas são identificadas,
dito de outra forma, há uma metonímia.
Na essência do juízo sintético se encontra, portanto, uma
metonímia. Isso é dizer que é uma equação falsa. Logo, os silogismos
sintéticos são ilógicos. Quando os utilizamos pressupomos a metafísica
popular, isto é, aquela que toma os efeitos pelas causas.