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O pensamento lógico, pouco praticado pelos gregos jônicos, se
desenvolve muito lentamente. Compreenderemos melhor os falsos
silogismos como metonímias, ou seja, de forma retórica e poética.
Todas as figuras de retórica (isto é, a essência da linguagem) são
falsos silogismos. E é com eles que a razão começa!
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Vemos de uma só vez como primeiramente se continua a filosofar e
como nasceu a linguagem, isto é, ilogicamente.
Acrescenta-se então o pathos da verdade e da veracidade. Isso não
tem inicialmente nada a ver com a lógica. Enuncia somente que nenhuma
ilusão consciente é cometida. Mas essas ilusões na linguagem e na filosofia
são primeiramente inconscientes e muito difíceis de levar à consciência.
Entretanto, por meio da confrontação de filosofias diferentes, estabelecidas
com o mesmo pathos (ou pela confrontação de religiões diferentes)
estabelece-se um combate singular No encontro de religiões inimigas, cada
uma se ajudou a si própria pelo fato de que explicava as outras como
falsas: o mesmo ocorreu com os sistemas.
Foi o que conduziu alguns pensadores ao ceticismo: a verdade está
no poço! gemeram eles.
Em Sócrates a veracidade toma posse da lógica: ela observa a
infinita dificuldade de denominar com exatidão.
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É sobre tropos e não sobre raciocínios inconscientes que repousam
nossas percepções sensíveis. Identificar o semelhante com o semelhante,
descobrir alguma semelhança entre uma coisa e outra, é o processo
original. A memória vive dessa atividade e se exerce continuamente. O
fenômeno original é, portanto, a confusão — o que supõe o ato de ver as
formas. A imagem no olho dá a medida a nosso conhecer, depois o ritmo a