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dá a nosso ouvir. A partir do olho nunca teríamos chegado à representação
       do tempo; a partir do ouvido não conseguiríamos melhores resultados na
       representação do espaço. Ao sentido do tato corresponde a sensação de
       causalidade.

              Inicialmente não vemos as imagens no olho a não ser em nós, não
       ouvimos o som a não ser em nós — daí a admitir a existência de um mundo
       exterior, vai um grande passo. A planta, por exemplo, não sente nenhum
       mundo exterior. O sentido do tato e ao mesmo tempo a imagem visual dão
       duas sensações justapostas; estas, porque aparecem sempre uma com a
       outra, despertam a representação de uma conexão (por meio da metáfora
       — pois, tudo o que aparece ao mesmo tempo não é conexo).


              A abstração é um produto de grande importância. É uma impressão
       duradoura que se fixou e se endureceu na memória e que convém a
       numerosos fenômenos e que, por isso, é para cada um em particular muito
       inapropriada e muito insuficiente.


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              Mentira do homem em relação a ele próprio e ao outros:
       pressuposição: a ignorância — necessária para existir (só e em sociedade).
       No vazio se insere a ilusão das representações. O sonho. Os conceitos
       recebidos (que, apesar da natureza, dominam o pintor germânico)
       diferentes  em todas as épocas. Metonímias. Excitações e não
       conhecimentos completos.

              O olho dá formas. Nós ficamos presos à superfície. A inclinação
       para o belo. Falta de lógica, mas existência de metáforas. Religiões,
       filosofias. Imitação.


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              A imitação é o meio de toda civilização, é por esse meio que o
       instinto se forma aos poucos. Toda comparação (pensamento original) é
       uma imitação. É assim que se formam espécies tais que são exemplares
       semelhantes que imitam com força as primeiras, ou seja, copiam o
       exemplar maior e mais forte. A aprendizagem de uma segunda natureza
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