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por meio da imitação. É na procriação que a reprodução inconsciente é
mais notável e, além disso, a educação de uma segunda natureza.
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Nossos sentidos imitam a natureza arremedando-a sempre mais.
A imitação supõe uma recepção, depois uma transposição contínua
da imagem percebida em mil metáforas, todas eficazes. O análogo.
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Que poder obriga à imitação? A apropriação de uma impressão
estranha por meio de metáforas. Excitação — imagem da lembrança,
ligadas por meio da metáfora (raciocínio por analogia). Resultado:
semelhanças são descobertas e reanimadas. A excitação repetida se
desenrola uma vez mais a propósito de uma imagem da lembrança.
A excitação percebida — agora repetida em numerosas metáforas
no meio das quais as imagens aparentadas afluem de diferentes rubricas.
Toda percepção visa a uma imitação múltipla da excitação, mas com
transposição para terrenos variados.
A excitação sentida — transmitida aos nervos aferentes, aí repetida
na transposição e assim por diante.
O que tem lugar é a tradução de uma impressão sensorial em
outras: diante da audição de certos sons, muitas pessoas vêem algo ou
saboreiam algo. É um fenômeno perfeitamente geral.
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O fato de imitar é o contrário do fato de conhecer no sentido que
precisamente o fato de conhecer não quer fazer valer qualquer
transposição, mas quer manter a impressão sem metáfora e sem
conseqüências. Com esse uso, a impressão fica petrificada: é tomada e
marcada pelos conceitos, depois morta, despojada e mumificada e
conservada sob a forma de conceito.