Page 64 - História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar
P. 64
- Kalimera - insistiu o humano.
- Kalispera, já te disse que é de tarde - tornou a corrigir Zorbas.
- Doberdan! - gritou o humano.
- Dobreutra, agora acreditas? - perguntou Zorbas.
- Acredito. E se tudo isto é um sonho, que me importa? Gosto dele e
quero continuar a sonhá-lo - respondeu o humano.
- Então posso ir ao que interessa - propôs Zorbas.
O humano concordou, mas pediu-lhe que respeitasse o ritual da
conversa dos humanos. Serviu ao gato um prato de leite, e ele
acomodou-se no sofá com um copo de conhaque nas mãos.
- Mia, gato - disse o humano, e Zorbas contou-lhe a história da gaivota,
do ovo, de Ditosa e dos infrutíferos esforços dos gatos para a ensinarem
a voar.
- Podes ajudar-nos? - quis saber Zorbas quando terminou o seu relato.
- Acho que sim. E esta noite mesmo - respondeu o humano.
- Esta noite mesmo? Tens a certeza? - inquiriu Zorbas.
- Olha pela janela, gato. Olha para o céu. Que vês? - convidou o
humano.
- Nuvens. Nuvens negras. Aproxima-se uma borrasca e não tardará a
chover - observou Zorbas.
- Pois por isso mesmo - disse o humano.
- Não te entendo. Lamento, mas não te entendo - aceitou Zorbas.
Então o humano foi até à secretária, pegou num livro e procurou entre
as páginas.
- Ouve, gato: vou ler-te um texto de um poeta chamado Bernardo
Atxaga. Uns versos de um poema intitulado As Gaivotas.
Página 64