Page 63 - História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar
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Bubulina não goste da tua música. Um concerto ruim! - disse o humano.
- Sei que canto muito mal. Ninguém é perfeito - respondeu Zorbas na
linguagem dos humanos.
O humano abriu a boca, deu uma palmada na cara e encostou as costas
a uma parede.
- Tu fa... fa... falas - exclamou o humano.
- Também tu falas e eu não estranho. Por favor, acalma-te -
aconselhou-lhe Zorbas.
- Um... um ga... gato... que fala - disse o humano deixando-se cair no
sofá.
- Não falo, mio, mas na tua língua. Sei miar em muitas línguas -
esclareceu Zorbas.
O humano levou as mãos à cabeça e tapou os olhos enquanto repetia
"é do cansaço, é do cansaço". Ao retirar as mãos, o gato grande, preto e
gordo continua no cadeirão.
- São alucinações. Não é verdade que és uma alucinação? - perguntou
o humano.
- Não, sou um gato de verdade que está a miar contigo - garantiu-lhe
Zorbas. - Entre muitos humanos, nós, os gatos do porto, escolhemos-te
a ti para te confiarmos um grande problema, e para nos ajudares. Não
estás louco. Eu sou real.
- E dizes tu que mias em muitas línguas? - perguntou, incrédulo, o
humano.
- Suponho que queres uma prova. Vamos a isso - propôs Zorbas.
- Buon giorno - disse o humano.
- É de tarde. Era melhor dizer buona sera - corrigiu Zorbas.
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