Page 58 - História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar
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submeterem a toda a espécie de provas estúpidas, porque os humanos
são geralmente incapazes de aceitar que um ser diferente deles os
entenda e trate de se dar a entender. Os gatos conheciam, por exemplo,
a triste sorte dos golfinhos, que se tinham comportado de uma maneira
inteligente com os humanos e estes tinham-nos condenado a fazer de
palhaços em espetáculos aquáticos. E sabiam também das humilhações
a que os humanos sujeitam qualquer animal que se mostre inteligente e
recetivo com eles. Por exemplo, os leões, os grandes felinos obrigados a
viver entre grades à espera de que um cretino lhes meta a cabeça entre
as mandíbulas; ou os papagaios, encerrados em gaiolas a repetir
parvoíces. De tal modo que miar na linguagem dos humanos era um
risco muito grande para os gatos.
- Fica aqui junto da Ditosa. Nós retiramo-nos para debater a tua petição
- ordenou Colonello.
Longas horas durou a reunião dos gatos à porta fechada. Longas horas
durante as quais Zorbas se deixou ficar deitado junto da gaivota, que não
escondia a tristeza por não saber voar.
Era já noite quando terminaram. Zorbas aproximou-se deles para
conhecer a decisão.
- Nós, gatos do porto, autorizamos-te a quebrar o tabu só desta vez.
Miarás apenas com um humano, mas antes decidiremos entre todos com
qual deles - declarou Colonello solenemente.
CAPÍTULO NONO
A escolha do humano
Não foi fácil decidir com que humano Zorbas iria miar. Os gatos
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