Page 56 - História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar
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Sabetudo.
Ditosa bateu as asas, encolheu as patas, ergueu-se uns palmos no ar,
mas caiu logo como um fardo.
De um salto, os gatos desceram da estante e correram para ela. Estava
com os olhos cheios de lágrimas.
- Sou uma inútil! Sou uma inútil! - repetia ela, desconsolada.
- Nunca se voa à primeira tentativa, mas vais conseguir.
Prometo-te - miou Zorbas lambendo-lhe a cabeça.
Sabetudo tentava encontrar o erro, revendo uma vez e outra a máquina
de voar de Leonardo.
CAPÍTULO OITO
Os gatos decidem quebrar o tabu
Dezassete vezes tentou Ditosa levantar voo, e dezassete vezes
acabou no chão depois de ter conseguido elevar-se uns poucos
centímetros.
Sabetudo, mais magro que de costume, arrancara os pêlos do bigode
depois dos doze primeiros fracassos, e com miados trementes tentava
desculpar-se:
- Não entendo. Revi conscienciosamente a teoria do voo, comparei as
instruções de Leonardo com tudo o que se diz na parte dedicada à
aerodinâmica, volume primeiro, letra "A", da enciclopédia, e no entanto
não conseguimos. É terrível! Terrível!
Os gatos aceitavam as suas explicações, e toda a sua atenção se
centrava em Ditosa, que depois de cada tentativa falhada ia ficando mais
triste e melancólica.
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