Page 57 - História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar
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Depois do último fracasso, Colonello decidiu suspender as tentativas,
pois a sua experiência dizia-lhe que a gaivota começava a perder a
confiança em si mesma, e isso era muito perigoso se de verdade queria
voar.
- Talvez não o possa fazer - opinou Secretário. - Se calhar viveu tempo
de mais connosco e perdeu a capacidade de voar.
- Seguindo as instruções técnicas e respeitando as leis da aerodinâmica,
é possível voar. Não se esqueçam de que está tudo na enciclopédia -
apontou Sabetudo.
- Pelo rabo da raia! - exclamou Barlavento. - Ela é uma gaivota e as
gaivotas voam! - Tem que voar. Prometi-o à mãe e a ela. Tem que voar
- repetiu Zorbas.
- E o cumprimento dessa promessa obriga-nos a nós todos - recordou
Colonello.
- Reconheçamos que somos incapazes de a ensinar a voar e que temos
que procurar auxílio para além do mundo dos gatos - sugeriu Zorbas.
- Mia claramente, caro amico. Aonde é que queres chegar? - perguntou
Colonello, sério.
- Peço autorização para quebrar o tabu pela primeira e última vez na
minha vida - solicitou Zorbas fitando os seus companheiros nos olhos.
- Quebrar o tabu! - miaram os gatos tirando as garras de fora e eriçando
os lombos.
Miar a língua dos humanos é tabu. Assim rezava a lei dos gatos, e não
porque eles não tivessem interesse em comunicar com os humanos. O
grande risco estava na resposta que os humanos dariam. Que fariam com
um gato falante? Com toda a certeza iriam encerrá-lo numa jaula para o
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