Page 62 - História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar
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importunar - respondeu a gata.
- Por favor, olha que é uma coisa muito urgente. Peço-to em nome de
todos os gatos do porto - implorou Zorbas.
- Para que é que o queres ver? - perguntou Bubulina desconfiada.
- Tenho de miar com ele - respondeu Zorbas com decisão.
- Isso é tabu! - miou Bubulina de pele eriçada. - Põe-te a mexer!
- Não. E se não queres convidar-me a entrar, então que venha ele.
Gostas de rock, gatinha?
Lá dentro o humano teclava na sua máquina de escrever. Sentia-se feliz
porque estava quase a terminar um poema e os versos saíam-lhe com
uma fluidez assombrosa. De repente chegaram-lhe do terraço os miados
de um gato que não era a sua Bubulina. Eram umas miadelas
destemperadas e que no entanto pareciam ter um certo ritmo. Entre
incomodado e intrigado, saiu para o terraço e teve que esfregar os olhos
para acreditar no que via.
Bubulina tapava as orelhas com as duas patas dianteiras sobre a cabeça
e, em frente dela, um gato grande, preto e gordo, sentado na base do
espinhaço e de costas apoiadas num vaso, segurava o rabo com uma pata
dianteira como se fosse um contrabaixo e, com a outra, simulava roçar
as suas cordas enquanto soltava enervantes miados.
Recomposto da surpresa não foi capaz de reprimir o riso e, quando se
dobrou apertando a barriga de tanto rir, Zorbas aproveitou para se
introduzir no interior da casa.
Quando o humano, ainda morto de riso, se virou, deu com o gato
grande, preto e gordo sentado num cadeirão.
- Basta de concerto! És um sedutor muito original, mas receio que a
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