Page 44 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
P. 44
«Estávamos contentes, bem-dispostos e cheios de esperança, quando a
doença nos assaltou.
«Morreram então muitos dos nossos que ali ficaram enterrados.
«Voltou a inquietação e a tristeza. E partimos chorando, na saudade de
tantos bons portugueses, perdidos para sempre, sepultos na terra estranha.
«E, depois do maldoso acolhimento que tivemos em Moçambique e em
Mombaça — e que decerto já conheces — eis-nos no teu seguro porto,
junto do teu bom povo, cuja brandura e afável tratamento darão saúde aos
vivos, e seriam até capazes de dar vida aos mortos...»
Depois deste cumprimento ao Rei de Melinde, que tudo ouvia com atenção
e interesse, Vasco da Gama acrescentou:
— «Tudo te contei que me pediste, ó Rei! Dize-me tu agora se julgas que
outra gente no Mundo pudesse arrojar-se a tal empresa e tenha visto, do
que eu vi e ainda hei de ver, a oitava parte!... Não há aventuras sonhadas
que valham as minhas, e a verdade que eu descrevi e narrei vence tudo o
que se tenha inventado a propósito de heróis imaginários e fabulosos!»
Os Melindanos, embevecidos, embora não compreendendo as suas
palavras, escutavam o capitão eloquente.
E, quando ele se calou, o Rei louvou o grande herói e os seus companheiros
pelos feitos praticados, e pela sublime coragem que tinham mostrado em
lances tão sérios e em travessia tão arriscada...
Voltou o Rei ao seu palácio, e o Gama ao seu navio, despedindo-se um do
outro com manifestações de muita amizade. Os Portugueses sentiam-se
contentes com o elogio do seu povo, feito pelo Almirante, e reconfortados
com o acolhimento dos Melindanos. E estes, por sua vez, orgulhosos dos
hóspedes que tinham, repetiam e comentavam a linda História de Portugal,
digna de glória eterna e da admiração de todo o Mundo!...