Page 48 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
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«Grande injúria, já se sabe, injúria que elas não podiam perdoar. Mas não
ficou aí o feio caso! Mais afirmaram os fidalgos ingleses que se alguém
quisesse defender as damas do insulto recebido, ali estavam todos para
matar com lança e espada os audaciosos que a tal se atrevessem.
«E a verdade é que, entre os seus compatriotas, nenhum se atreveu a
aceitar o desafio, receosos da valentia, da importância e do nome que
tinham os cavaleiros insultadores...
«As pobres damas — coitadas! — choravam e maldiziam a sua triste sorte!
«Não sabendo como se poderiam vingar da ofensa recebida, foram pedir
conselho e ajuda ao Duque de Lencastre, guerreiro inglês que tinha
combatido ao lado dos Portugueses contra Castela, e cuja filha, D. Filipa,
casara com D. João I.
«O Duque de Lencastre logo lhes aconselhou que chamassem gente de
Portugal para as desagravar, tanta ousadia, boa educação e coragem tinha
conhecido e apreciado nos Portugueses.
«E indicou-lhes imediatamente o nome de doze bravos, seus amigos de
Portugal, capazes de combater e morrer por elas.
«Mandaram as senhoras inglesas um emissário a Lisboa, trazendo cartas de
cada uma das damas para cada um dos nossos valentes portugueses.
Chegaram as cartas, com a notícia espantosa. E tanta indignação causou
entre nós a conduta dos doze ingleses, que até o Rei D. João I desejava ir
castigá-los...
«Mas o Rei é o Rei — tem de governar o seu povo, e não sai da Pátria
quando lhe apetece...
«Arma-se um navio no Porto e embarcam nele os fidalgos lusitanos.