Page 51 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
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De facto, uma nuvem negra corria sobre a frota, e o vento crescia
assustadoramente.
Impetuosa, desencadeia-se a terrível procela.
Rompe-se a vela grande da nau de Veloso, pois não houvera tempo de
amainá-la.
Alaga-se o navio todo com as ondas que o envolvem espumando, e a água
entra pelos porões.
Correm os marinheiros a dar à bomba, para evitar o naufrago, o que parece
certo.
Nunca a fúria do vento foi mais cruel do que nessa hora!
Nunca o Mar foi tão perigoso!
O navio maior, em que navegava Paulo da Gama, irmão de Vasco, leva o
mastro quebrado.
Umas vezes o Mar levanta as naus ao Céu, outras fá-las descer como
atraídas para as profundas do Inferno.
Dir-se-ia que a tempestade queria despedaçar o Mundo inteiro.
Relâmpagos e raios, como jamais se viram, faíscam e fuzilam.
Na costa, há montes que são derrubados, raízes que são desenterradas e
postas ao ar, e as fundas areias ficam todas revolvidas, como por íntima
convulsão da Terra...
Tão perto da índia estavam os Portugueses — e tão impossível se lhes
afigura lá chegar, nessa hora de tragédia!
O Oceano tragaria ali naus e marinheiros, se a tempestade por fim não
abrandasse.
Vasco da Gama, entre o furor da procela, ergue a sua alma a Deus.
E enquanto os marinheiros lutam contra a fúria do Oceano, a Deus suplica
porto e salvamento.