Page 54 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
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o tempo em distrações vulgares, ou a lutar uns contra os outros, não
tentando levar a desconhecidas regiões a Fé Cristã e a civilização da Europa.
Não assim o povo português, em cuja pequena terra lusitana nunca
faltaram nem audácia, nem espírito empreendedor, nem amor do ignoto
Mar, encontrando-se agora na Ásia os seus marinheiros para espalharem ali
o nome de Portugal e os benefícios da doutrina de Cristo...
Calecute era a capital da índia, onde vivia o Imperador, ou Samorim, como
lá se dizia.
Cidade rica, onde habitavam muitos índios e mouros, que faziam grande
comércio uns com os outros.
Assim que a frota portuguesa entrou no seu porto, muita gente acorreu a
vê-la.
Desceu um mensageiro a colher novas.
A primeira pessoa com quem travou conversa foi um mouro chamado
Monçaide, que sabia falar espanhol e que ficou espantadíssimo de viagem
tão longa, por mares ignorados e tão perigosos.
Explicou-lhe o português que o seu capitão trazia uma mensagem do Rei de
Portugal para o Rei daquelas regiões, e que vinha ali, não para guerrear e
combater, mas só para acrescentar pacificamente o esplendor e a glória da
sua Terra e da sua Fé.
Monçaide ofereceu-lhe albergue e descanso em sua casa.
O mensageiro de Vasco da Gama aceitou sem receio a hospitalidade do
mouro.
Vão ambos para casa de Monçaide. Comem e bebem com boa disposição.
E ambos se dirigem em seguida para bordo a contar o que sabem ao grande
Almirante,