Page 49 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
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«Mas só onze embarcaram. O mais valente, chamado Magriço, decidiu ir
por terra, prometendo no entanto aparecer no momento próprio. Queria
dar o seu passeio, antes de chegar a Inglaterra.
«Um belo dia os onze portugueses desembarcam em Londres, onde são
muito bem recebidos e tratados.
«Aproxima-se a hora da peleja. Ninguém tem medo, dos nossos. Só uma
coisa os preocupa — a demora de Magriço, que passeia não se sabe por
onde.
«Parara na Flandres, e por lá se divertia, sempre lembrado, no entanto, do
dia do torneio... Ou não fosse ele um leal e honrado português!
«Mas o dia do torneio alvoreceu, e Magriço ainda não estava em Londres!
A dama, a quem ele vinha defender, veste-se de luto, certa já de que não
tinha paladino.
«Vai a corte inglesa toda para o campo do combate. O Rei senta-se no seu
trono, e as outras pessoas à volta dele.
«Os cavalos dos valentes fidalgos espumam já.
«O Sol rutila nas lanças. A ansiedade de todos é enorme.
«Mas do lado dos Ingleses há doze cavaleiros e do nosso lado — só onze!...
«Onde estaria, perguntam todos, o descuidado Magriço?
«De repente, grande alvoroço se produz, e toda a assistência olha para a
entrada do campo.
«É Magriço que chega, montado no seu cavalo, vestido e pronto para a luta.
«Cumprimenta o Rei, fala às damas, abraça os companheiros que rejubilam,
e toma lugar ao lado deles.
«A sua dama logo ali mesmo se enfeita com luxuosos arminhos, que são
adornos próprios de festa.