Page 50 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
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«Soa o primeiro sinal de combate, e os cavaleiros esporeiam os cavalos,
largam as rédeas, abaixam as lanças.
«Faísca a terra sob as patas dos animais, que mordem os freios de oiro. O
chão parece tremer todo, sacudido.
«O coração de quantos ali se encontram palpita, medroso, tão violenta é
logo a peleja.
«O aço das armas torna-se vermelho com o sangue do inimigo.
«Uns, caindo, parecem voar dos cavalos até ao chão...
«Outros, derrubados e arrastados, açoitam com os penachos dos elmos as
ancas dos ginetes...
«Morrem alguns. O resto fica ferido. E, depois de porfiada batalha, os
Portugueses vencem inteiramente os adversários, com aprumo e galhardia
raras.
«A soberba inglesa sofreu assim um duro golpe, mas as damas ficaram
desafrontadas da injúria sofrida, graças à coragem e audácia dos nossos,
que não hesitam em bater- -se pela honra alheia...
«Mais uma vez triunfou o espirito guerreiro e cavalheiresco e a força
invencível dos Portugueses. O Duque de Lencastre, como prova de gratidão,
albergou-os no seu palácio. E, enquanto eles não regressaram a Portugal,
todos os dias lhes ofereceu divertimentos, bailes e jantares, onde nunca
faltavam as doze damas. À volta, segundo contam, ainda Magriço e um seu
companheiro tiveram alguns desafios, o primeiro na Flandres e o segundo
na Alemanha. Não deixavam nunca de pôr à prova a sua valentia e destreza
no uso e manejo das armas...»
Queria Veloso continuar a heroica narrativa, quando o mestre do navio lhe
pediu e aos seus ouvintes que estivessem alerta... É que se anunciava já a
tempestade que Baco projetara desencadear...