Page 46 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
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Lá se encaminhou a frota para o sonhado Oriente, onde nasce o ardente
Sol-
Breve chegaria ao termo da sua derrota, e então Portugal inteiro teria
conquistado uma nova e imortal glória!
Baco — o terrível Baco — não dormia, porém.
Vendo os Portugueses tão próximos da Índia desejada, mais uma vez
resolve impedir-lhes a passagem por aquele Oceano onde navegavam.
Em nada o ajudaria Júpiter, decerto, pois decididamente resolvera proteger
os Portugueses.
Deixá-lo! Baco não ignora manhas e habilidades... Sem mais tardar, vai ter
com Neptuno, Rei dos Mares, cuja corte é debaixo de água.
Vive Neptuno no mais fundo de uma profunda caverna submarina.
As areias que a tapetam são de fina prata.
Altas torres de vidro transparente erguem-se dos lados da caverna, tão
cristalinas, que se não sabe até se as fizeram de diamante...
As portas do palácio são de oiro, coberto de aljôfar, e belas esculturas as
adornam.
Numa delas estão representados os quatro elementos do globo: o Fogo, o
Ar, a Terra e a Água, e na outra uma guerra que os Deuses antigos tiveram
com os gigantes.
Coisas admiráveis, que Baco — tão furioso corre! — nem sequer se detém
a contemplar.
Chega ao palácio de Neptuno, que já o esperava, rodeado de sereias e
ninfas, todas espantadas que o Rei do Vinho entre assim tão depressa no
palácio do Rei da Água!
E Baco, logo que avista Neptuno, grita-lhe o que pretende, e pede-lhe que
reúna um conselho de todos os Deuses marinhos.