Page 87 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
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«Milagre da Fé, que — e assim Cristo lho ensinara — tudo é capaz de
conseguir, se for grande e forte...
«Ficaram os índios alvoroçados com o caso. E os seus Brâmanes receavam
já perder a autoridade que têm sobre o povo. Cheios de inveja, procuram
modo de matar S. Tomé.
«E um deles — de que se lembra? De matar o próprio filho e dizer que o
assassino era o piedoso apóstolo!
«Arranjam falsas testemunhas e condenam Tomé à morte. Mas Tomé,
confiado em Deus, por Deus chama e invoca — e manda trazer à presença
dos seus acusadores e do rei de Narsinga o corpo do rapaz assassinado.
«Ordena ao rapaz que ressuscite e ali revele quem o matara.
«Ressuscita o morto, com admiração e espanto de toda a gente!
«O rei, que era infiel, tão impressionado ficou, que se batizou logo e se fez
cristão. E muita, muita gente lhe seguiu o exemplo.
«Tomé é então festejado e acarinhado. Vários indígenas beijam-lhe o
manto, com respeito; os Brâmanes, porém, não se dão por contentes. E
decidem então matá-lo, fosse como fosse...
«Estava Tomé mais uma vez pregando ao povo, quando os Brâmanes
fingiram que havia um grande barulho entre a multidão. Gritam, correm de
um lado para o outro, como cheios de medo. Vendo-os assim, começou a
multidão a assustar-se. E os Brâmanes vão murmurando que o verdadeiro
culpado do barulho — é o Santo!
«A multidão, receosa, acredita e indigna-se. E pega nas pedras da calçada
para lapidar Tomé. As pedras são tantas e tão pesadas, que ele já nem
resiste aos seus golpes e desfalece no chão.
«Um índio vem então junto dele e atravessa-lhe o peito com uma lança.
Morreu logo o apóstolo, volvendo os olhos ao Céu.