Page 82 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
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«Entrincheira-se nela D. João de Mascarenhas, só com seiscentos homens
contra milhares de turcos, que, ferozes, jurarão mesmo banhar os bigodes
façanhudos no saque dos Lusitanos!
«Mas a resistência heroica dos vossos dará tempo a que chegue D. João de
Castro, e os seus soldados.
«Primeiro, virão os filhos, Fernão e Álvaro, que o pai estremecia, mas que
— tão patriota ele era! — não hesitava em sacrificar ao seu amor da Pátria...
«Fernando morre logo em combate. E Álvaro, quando o inverno rigoroso
embravece o Céu e o Mar, conseguirá
vencer todas as tormentas e perigos, chegando à cidade sitiada.
«Depois virá o próprio D. João de Castro, também pelo Mar, e tal destroço
fará nos Turcos, que os restantes fugirão sem sequer olhar para trás.
«Mais outros feitos épicos se deverão a esse grande general.
«O Rei da Cambaia, embora com quinze mil homens em pé de guerra, não
aceitará batesse contra os Portugueses, tal medo lhes tem.
«O Príncipe Hidalcão, homem tremendo e selvagem, tentará lutar ainda.
Mas ver-se-á perdido e derrotado em breve, embora traga consigo quatro
vezes mais guerreiros do que os Lusitanos!
«Estes e outros varões, que te sucederão na índia» — cantou ainda a ninfa
Tétis —, «dignos todos de prémio e de glória, aportarão como tu a esta ilha
de descanso e alegria, que não é senão a justa recompensa dos trabalhos e
fadigas dos heróis...»
Assim cantou a ninfa, e todas as outras a aplaudiam com entusiasmo.
E todos gritavam: — «Por mais incerta que seja a fortuna, nunca vos hão de
faltar, gente famosa, honra, valor e glória!»
Entre aplausos e aclamações, acabou então o banquete.