Page 78 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
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palanquim que o transportar tingir-se-á de sangue. Fugirão os índios todos,
como para nunca mais voltarem...
«Não desistirão da luta no entanto, apesar de ser esta a sexta batalha
contra Duarte Pacheco. E todos os meios desleais lhes hão de servir para
combater os Portugueses, chegando mesmo a envenenar a água de beber!
«O Samorim prometerá então tornar ainda a bater-se contra os Lusitanos
invencíveis, e vencê-los, enfim!
«De nada lhe servirá o orgulho balofo...
«Nem as máquinas donde lançará bombardas sobre as caravelas de Duarte
Pacheco, nem os barcos destinados a incendiá-los, conseguirão assustar o
herói e os seus valentes companheiros.
«Uma estacada fortíssima, erguida em volta das naus, impedirá que os
inimigos lá cheguem. E Pacheco vencerá sempre, com pouco mais de cem
soldados — em vitórias sucessivas e tão completas, que mais parecerão
sonhadas do que verdadeiras!
«Nenhum herói, antigo ou moderno, foi ou há de ser tão forte e sábio na
guerra como este grande Duarte Pacheco», disse Tétis. E neste momento
do seu canto, Tétis abaixou o tom da voz, e chorosa, continuou:
— «A vontade dos Reis manda às vezes mais do que a justiça e a verdade...
«Duarte Pacheco será mal pago e compensado dos grandes feitos que
praticou, para honra e engrandecimento da sua terra e do seu povo, pois o
Rei de Portugal não o premiará como seria seu dever.
«Não importa!
«Ficará eternamente ilustre e conhecido o nome de Duarte Pacheco! E ao
Rei, neste caso pelo menos, todos o julgarão iníquo e mesquinho!