Page 73 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
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Quando os lá viu, libertos e sãos, Vasco da Gama restituiu os cativos que
levava.
Acompanharam-no, porém, Monçaide e alguns malabares, e trouxe
também consigo certas especiarias, como pimenta, canela e noz-moscada
— tudo para que melhor se acreditasse em Portugal que ele chegara até à
índia, a vira e a visitara.
Monçaide seguia de vontade e por verdadeiro afeto aos Portugueses.
Assim que a frota desceu pela costa do Industão e deixou longe Calecute,
esse grande amigo dos Portugueses converteu-se à religião cristã,
tornando-se dessa maneira mais capaz de compreender e estimar os seus
novos companheiros.
Estavam enfim os Portugueses no caminho de regresso, depois de terem
alcançado a longínqua e desejada índia e de terem corrido mares até aí
nunca navegados, vencendo perigos, temporais, fúria dos elementos,
maldades, traições e ciladas dos homens...
Nunca ninguém no Mundo cometera façanha tão difícil! Nunca ninguém
excedera ou sequer igualara a coragem, o sangue-frio, a tenacidade, a
inteligência e a ciência dos marinheiros lusos!
Por isso voltavam contentes, a proa dos navios já voltada para o Sul,
afastando-se cada vez mais da Ásia, para de novo dobrar o Cabo da Boa
Esperança, a caminho de Portugal...
No coração dos mareantes nem parecia caber a alegria do seu triunfo,
arduamente conquistado entre climas e céus ignotos, em lutas e trabalhos
longos, para honra e glória da Pátria que tanto engrandeciam e amavam...