Page 77 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
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E não louvava apenas os seus feitos passados, mas sobretudo mostrava a
sua firme confiança no futuro dos Portugueses, adivinhando e profetizando
os atos heroicos, as proezas sem conta que eles ainda realizariam...
Um silêncio enorme se estendeu então por todo o palácio, calando-se o
vento, as fontes e os animais...
Tudo parecia recolher-se, para ouvir o elogio dos Portugueses...
Tétis celebrou primeiro as novas armadas que, seguindo o caminho aberto
por Vasco da Gama, navegariam nos mares orientais, partindo do Tejo,
como de lá partira a frota ancorada na Ilha.
Elogiou o Rei de Cochim, que mais tarde, para não faltar aos juramentos de
paz e amizade feitos aos nossos, sofreria a guerra feroz e a fúria do Samorim
de Calecute.
E previu a audácia sem par de que daria provas o grande Duarte Pacheco —
tão extraordinária, que o próprio navio onde em Belém ele embarcasse
sentiria logo o peso da sua glória, cavando mais fundo as águas do fundo
Mar...
— «Será ele», proclamou, «o defensor do Rei de Cochim.
«Com poucos soldados desbaratará os numerosos guerreiros de Calecute,
e todo o Oriente pasmará de tanto heroísmo.
«Mas o Samorim chamará mais gente, muita gente bem armada, gente
vinda de todas as suas províncias e cidades.
«Sete vezes, porém, Duarte Pacheco derrotará o exército inimigo.
«Numa delas, estando este dividido em dois grupos, esperando os
Portugueses à traição, Pacheco os levará de vencida, arrasando tudo em
sua frente.
«Noutra, assistindo à batalha o próprio Samorim — que virá animar com a
sua presença os soldados —, um tiro matará um dos servidores do Rei, e o