Page 79 - Os Lusiadas Contados as criancas e lembrado ao povo
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«Cantarei agora», continuou Tétis com voz mais forte. «0 primeiro Vice-Rei

                  da  índia,  D.  Francisco  de  Almeida,  que  virá  acompanhado  do  seu  filho


                  Lourenço.»

                  «Ambos combaterão lealmente contra o Mouro, em Quíloa e Mombaça. E

                  o jovem Lourenço de Almeida fará prodígios de bravura.

                  «Na índia destruirá a armada do Samorim, destroçando

                  quatrocentos mouros, que tantos serão os tripulantes da nau!


                  «Até que em Chaul, expondo-se corajosamente aos golpes e às bombardas

                  do adversário, morrerá no seu navio, lutando até que a vida o abandone de

                  todo, deixando ali o pai choroso e desesperado.

                  «E que desespero será o deste pai, que ama o filho com amor profundo!

                  Deveria entregar o governo da índia a outro Vice-Rei, mas não o fará antes


                  de vingar o filho.

                  «Os  olhos  cheios de lágrimas, mas  o  coração  ardendo  em  ira, destruirá

                  todos os barcos dos índios e dos Mouros, e, descendo em terra, entrará na

                  cidade de Dalul, que domina e conquista. E depois, na enseada de Diu —

                  que  se  tomará  célebre  pelas  batalhas  ali  empreendidas  —  fará  fugir  as


                  grandes frotas do Rei de Calecute, do Emir e Príncipe do Egito, que ali estará

                  para ajudar os Mouros, e também as naus de Mir Hocem, índio temível.

                  «Os  Portugueses  parecerão  raios  de  fogo  no  ardor  com  que  destruirão

                  tudo!

                  «Grande vitória será a nova e clara vitória de D. Francisco de Almeida!


                  «Mas, aí! Ao regressar à Pátria, esse herói que nunca os índios, os Mouros

                  e os Egípcios conseguirão matar, será traiçoeiramente assassinado pelos

                  Cafres do Cabo Tormentório!

                  «Só a glória ficará de tão grande Capitão!

                  «Agora», prosseguiu Tétis, «vejo um clarão imenso no mar de Melinde!
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